Dízimos e Ofertas: Um Ato de Fé.

Pr Manoel Costa

Podemos definir o dízimo como a décima parte de alguma coisa, e relacioná-lo a tudo o que recebemos. Segundo G. Ernest Thomas “O dízimo é o hábito regular pelo qual um cristão, procurando ser fiel à sua crença, põe à parte pelo menos dez por cento de suas rendas, como reconhecimento das dádivas divinas”. Para o pastor Claudionor de Andrade, o dízimo é uma oferta entregue voluntariamente à obra de Deus, constituindo-se na décima parte da renda do adorador.

O homem é acostumado a ofertar a Deus desde a sua criação. O oferecimento de bens materiais como parte do culto a Deus não nasceu em nossos dias. Os registros sagrados mostram que Adão e sua família sabiam da importância de oferecerem suas dádivas ao Senhor (Gn 4.3-5). Já no Éden temos o primeiro exemplo de mordomia para Deus. Ali o homem recebeu privilégios e responsabilidades.

O Éden e todas as suas riquezas pertenciam a Deus, mas estavam sob os cuidados de nossos primeiros pais. Como disse certo escritor: “Cada cheque que recebemos de pagamento é um novo Éden. Será que reconhecemos a soberania de Deus e seus direitos sobre nós como parte de seu propósito, ou consideramos nossas todas as árvores do jardim?”

Deus pegou as grandes riquezas que havia feito e as entregou nas mãos de Adão. O Criador muitas vezes coloca os seus bens em nossas mãos para provar a nossa fé. Ele quer saber se lhe somos fiéis em todas as situações – tendo pouco ou muito. Devolver o dízimo é um reconhecimento à soberania divina e uma prova da nossa fidelidade.

Na história da criação aprendemos que Deus não precisa do dízimo. Ele tem o todo (Sl 24.1). Na verdade, Deus não precisa de nada. Ele é completo de poder e glória. A Deus, e somente a Ele, pertence o Reino, o poder e a glória para sempre (Mt 6.13). O dinheiro que lhe entregamos já era dele antes de o trazermos.

Na época dos patriarcas o dízimo já era uma marca na vida daqueles que temiam ao Senhor. Os historiadores mostram que o dízimo era uma prática comum não só entre os hebreus, mas também em muitas civilizações antigas; ele era usado para a manutenção do serviço religioso, mas também servia, em alguns casos, para cobrir as despesas dos governos.

Com a chegada da Lei de Moisés, o povo teve uma motivação a mais para a fidelidade nos seus dízimos e ofertas. Nela, o grande capitão do êxodo, lembra aos hebreus que o dízimo, inclusive do campo e do gado, pertence ao Senhor (Lv 27.30). Esse texto diz que os dízimos “são santos ao Senhor”. Isso significa que devem ser separados imediatamente. Não podemos incluí-los nos nossos planos. Não temos o direito de usar aquilo que Deus não nos deu.  

Os povos pagãos traziam oferendas aos seus deuses e até aos seus governantes considerando que a terra era deles. Já a semente de Abraão, que cria que “Do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam”, entregava os dízimos em reconhecimento ao Deus dos céus e da terra. Os que usam os bens de Deus, tirados da terra, sem lhe entregar o dízimo, não reconhecem a sua propriedade. Apossam-se indevidamente do que não lhes pertence.

Os judeus eram ensinados, desde cedo, a consagrarem a Deus a décima parte de tudo o que recebiam. Depois de aproximadamente catorze séculos, o Senhor Jesus Cristo confirmou isso quando disse que devemos entregar a Deus o que é de Deus (Mt 22.21).

O pastor Paulo Cesar Lima, afirma que “todo judeu tinha consciência de que entregar a décima parte de tudo que passava pelas suas mãos era muito mais que uma obrigação legal, constituía-se a própria manutenção da imagem soberana de Deus em suas mentes”. Segundo ele, os judeus viam o dízimo como um contínuo exercício de gratidão a Deus.

É importante lembrar que o mandamento do dízimo não se limita apenas a uma única fonte de renda. Não deve ser somente do dinheiro ou dos produtos do campo, mas de tudo aquilo que recebemos. Não sabemos ao certo qual foi o dízimo de Abraão, mas sabemos que ele “deu-lhe o dízimo de tudo”. A promessa de Jacó foi: “de tudo quanto me deres, certamente te darei o dízimo”, e o mandamento em Malaquias é muito claro: “trazei todos os dízimos”.

Alguns negam o dízimo achando que ele não está no Novo Testamento. Essas pessoas ainda não foram tocadas pela mensagem do evangelho, que tem o objetivo de limpar o homem e deixa-lo pronto para servir a Deus e contribuir no Seu Reino com alegria e liberalidade.

O Novo Testamento deixa muito claro que todos aqueles que aceitaram a Jesus tiveram uma nova visão sobre o uso do dinheiro. Muitos se dispuseram espontaneamente a abrir mão das suas posses. A fé os libertava da ganância material. O quebramento que começava no espírito resultava em uma mudança radical no trato dos bens materiais e em generosas ofertas para o trabalho do Senhor.

Os objetivos que justificavam a necessidade dos dízimos e ofertas na Antiga Aliança continuam vivos. Os hebreus ofertavam para agradar a Deus, para suprir as necessidades do templo, e para cuidar dos sacerdotes. O Novo Testamento não nos desobriga de nada disso. Também aqui temos Deus, o templo e os sacerdotes. O tempo e a cultura podem variar, mas os princípios da Palavra de Deus não mudam.

Os crentes em Jesus Cristo sabem dos seus compromissos. Junto com a alegria da salvação vem também o senso de responsabilidade e a disposição para cooperar. Uma coisa bastante clara tanto no Antigo, como no Novo Testamento, é o nosso dever de amar a Deus sobre todas as coisas. Quem ama a Deus sobre todas as coisas lhe negará o dízimo?

O NT tem muitos exemplos de crentes cooperando com dinheiro para a obra de Deus. O dinheiro da igreja era usado para apoiar os projetos de evangelização, para sustentar os obreiros e para cuidar dos mais necessitados.

A defesa de Paulo ao direito dos obreiros receberem o sustento da igreja, usando o código levítico, aponta para a permanência do dízimo no Novo Testamento (1Co 9.13-14). As ilustrações do apóstolo estabelecem um paralelo entre as duas dispensações. Primeiro ele lembra que os levitas que cuidavam dos serviços do templo tiravam dele o seu sustento. Está claro que esse sustento vinha dos dízimos. Então ele completa “Assim ordenou também o Senhor aos que anunciam o evangelho, que vivam do evangelho” (1Co 9.14). Esse “Assim” de Paulo faz uma relação clara entre os sacerdotes de antigamente e os de hoje. A igreja entrega os seus dízimos pelo mesmo princípio que os entregavam os hebreus.

Nós, que vivemos na dispensação da graça, não deveríamos nos considerar menos obrigados à contribuição financeira. Muitos cristãos nutriram incorretamente o pensamento de que é mais fácil servir a Deus hoje do que no tempo da Lei, como se ele tivesse afrouxado as regras. O privilégio da graça não nos dá o direito de vivermos ao nosso bel-prazer. Os ideais de Deus são sempre os mesmos.