A MAIOR PAIXÃO DE JOÃO JONAS, O PRIMEIRO PASTOR ORDENADO PELA CONVENÇÃO MARANHENSE

          Mesmo vivendo em uma época em que já começa a se tornar comum a busca pelos títulos eclesiásticos e a disputa pela ocupação de posições de destaque em convenções e organizações eclesiásticas no Brasil, João Jonas não esboçou nenhum interesse por essa corrida. Nem mesmo expressou qualquer preocupação ou esforço em acumular riquezas ou bens materiais. A sua grande preocupação era mesmo ganhar almas para o Senhor Jesus.

Analisando alguns aspectos de sua biografia, consegui detectar uma semelhança muito próxima entre Jeremias, o profeta das lágrimas, no Antigo Testamento e o missionário João Jonas. Os meus principais informantes e as fontes biográficas a que tive acesso, foram unânimes em afirmar que o biografado em estudo, com muita frequência, podia ser visto chorando enquanto pregava para uma multidão, e, as vezes quando falava de Jesus para uma só pessoa ou mesmo quando aconselhava a um irmão que estava frio na fé. É difícil para alguns, hoje, entenderem essa atitude, mas o nosso apóstolo dos sertões, era ao mesmo tempo um homem durão, porém, identificado por muitos de sua época como um pregador chorão.

Além deste evidente quebrantamento que o assemelhava ao profeta da antiga aliança, constatei, ainda, através do cruzamento de informações fornecidas por mais de uma dezena de membros pioneiros do movimento pentecostal maranhense que conviveram com João Jonas, que ele, antes de vir para o Brasil, e mesmo antes do seu encontro com Jesus, era um cidadão casado no seu país de origem e possuía dois filhos, sendo estes, um menino e uma menina. Estando já no estado do Maranhão, servindo como obreiro, sua alma se consumia de um sentimento tão forte de urgência, amor e dedicação pelas almas perdidas que não quis aceitar nenhuma proposta para casar-se outra vez. Mesmo estando livre para um segundo casamento, visto que havia sido divorciado dentro da permissão citada por Jesus, ele descartou completamente a possibilidade de contrair novas núpcias para poder estar com o seu tempo inteiramente livre para empenhar-se com toda dedicação na tarefa de ganhar almas para o reino de Deus e plantar novas igrejas por onde quer que lhe fosse possível.

Quando visitei e entrevistei o irmão Miguel Serafim, membro da Assembleia de Deus em são Pedro dos Crentes, este me contou que alguns obreiros antigos conhecidos e contemporâneos de João Jonas, como, por exemplo, Francisco Assis Gomes, dentre outros, insistiam para que ele se casasse outra vez. Mas, o pastor João Jonas, declarou mais de uma vez aos seus companheiros ministeriais e ao irmão Miguel, que havia pedido a Deus uma espécie de celibato. Confessou que havia implorado insistentemente com o Senhor Jesus que tirasse dele todo o desejo de casamento e lhe conservasse solteiro como um servo fiel e obediente até o fim de sua vida na terra. E nisto João Jonas foi atendido.

A irmã Antônia Costa, residente em São Luís, e uma das pioneiras que entrevistei, declarou-me que viu João Jonas pela primeira vez na cidade de Pedreiras. Ela afirma que muitas vezes ele deitava-se para dormir completamente vestido, arrumado, já preparado para viajar e, era comum a qualquer momento, ele declarar que estava recebendo ordens diretas do Senhor Jesus para levantar-se e seguir viagem para algum lugar que o Espírito Santo o guiasse. Neste aspecto, o seu ministério era, também semelhante ao do profeta Elias (1 Rs 18.5-16).

Em várias ocasiões, o missionário João Jonas dizia a quem o havia hospedado: “O Senhor Jesus está me mandando ir agora ao lugar (…), pois lá chegou um falso mestre e está desviando da fé a muitos novos decididos. Tenho que ir agora”. Ou então declara outros motivos de sua urgência espiritual: “O senhor Jesus está me mandando agora ao lugar (…), pois lá tem uma pessoa que está quase morrendo e é preciso que eu fale a ela o que Jesus me ordenou antes que seja tarde demais”.

Não importava se fosse meia noite, meio-dia ou mesmo de madrugada. Ele pedia que o dono da casa lhe ajudasse na preparação do seu animal e empreendia viagem imediatamente, seguindo a divina direção que havia recebido. Em várias ocasiões o que ocasionava mais uma viagem urgente, era o fato de um irmão em Cristo haver se desviado da fé em Jesus ou fracassado em sua comunhão com Deus em um daqueles lugares onde ele já estivera antes pregando ou na tarefa da plantação de mais uma igreja.

O senso de responsabilidade, preocupação e urgência com a salvação e o discipulado das almas que dominava o nosso desbravador era tão grande que, em muitas ocasiões ele andava com dois animais à sua disposição; quando um cansava, ele deixava aquele em alguma “solta” onde houvesse suficiência de pastos, até que o animal descansasse e prosseguia montado no segundo animal que estava mais forte e descansado. Quando retornava, deixava o segundo animal para descansar e prosseguia no primeiro, que já deveria estar descansado e bem alimentado.

Depois de ter percorrido os milhares de quilômetros, que já mencionei anteriormente, em busca de informações sobre o nosso pioneiro e ter dialogado com dezenas de testemunhas oculares do ministério deste apóstolo do século XX, posso afirmar que a paixão que o dominava era a mesma que se manteve como uma chama acesa no coração de Paulo, o grande apóstolo dos gentios: ver centenas e milhares de pessoas abraçando a fé em Cristo Jesus e novas igrejas sendo plantadas e edificadas na palavra de Deus em qualquer lugar onde Jesus não tivesse sido ainda anunciado. Este foco específico da vida do apóstolo Paulo e do pastor João Jonas, pode ser identificado em 1 Coríntios 9.16, 19: “Se núncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois sobre mim pesa essa obrigação; porque ai de mim se não pregar o evangelho! (…) Porque, sendo livre de todos, fiz-me escravo de todos, a fim de ganhar o maior número possível”.

Nunca era prioridade ou motivo de preocupação para João Jonas o fato de este ou aquele lugar ser próspero financeiramente ou não, ele não precisava saber se algum dia o progresso industrial ou comercial chegaria ou não àquela determinada localidade. Também nunca fazia os cálculos se em algum tempo aquela nova igreja daria algum retorno financeiro ou poderia sustentar os seus futuros obreiros ou não. De fato, todas estas especulações, nem sequer ocupavam seu tempo, pois, este era precioso demais para que se perdesse com tais preocupações. O que enchia os seus pensamentos e motivava as suas longas caminhadas em busca de almas para Cristo pode muito ser ilustrado pela declaração do autor de provérbios 24.11,12: “Livra os que estão sendo levados para a morte e salva os que cambaleiam indo para serem mortos. Se disseres: eis que não o sabíamos, não o perceberá aquele que pesa os corações? E não pagará ele aos homens segundo as suas obras?

Distinto leitor, não lhe tocam estas vívidas experiências com Deus experimentadas na realização de sua obra evangelizadora? Enquanto começo descrever um pouco sobre a vida deste gigante da evangelização, aproveito para compartilhar neste capítulo os principais objetivos que me impulsionaram para escrever este livro. Este testemunho real sobre a vida de um servo que se colocou inteiramente à disposição das ordens de seu querido mestre Jesus, foi organizado e colocado nesta singela obra com o objetivo de glorificar a Deus por tudo que ele tem feito e ainda é capaz de fazer na vida de um homem que se coloque inteiramente em suas mãos. Mas também, esforcei-me para colaborar com a preservação da memória do movimento pentecostal no estado do Maranhão, principalmente mostrando como Deus agiu de múltiplas formas para construir a história desta denominação, que é hoje a maior igreja evangélica deste estado e deste país. E, por último, estas informações foram aqui reunidas para proporcionar a você estimado leitor a possibilidade de experimentar um despertamento interior, uma renovação de sua visão e de seu amor pela tarefa mais sublime da igreja de Cristo na terra que é ganhar almas para Cristo Jesus o nosso Senhor. (Texto extraído do livro: “JOÃO JONAS, O APÓSTOLO DOS SERTÕES”, da autoria do pastor Rayfran Batista da Silva).