ARTIGO 8

Cremos: Na Igreja, coluna e firmeza da verdade, una, santa e universal assembleia dos fiéis remidos de todas as eras e todos os lugares, chamados do mundo pelo Espírito Santo para seguir a Cristo e adorar a Deus (Jo 4.23; 1 Tm 3.15; Hb 12.23; Ap 22.17);

CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O artigo de número oito do credo assembleiano declara a fé pentecostal na existência da Igreja de Jesus Cristo como a assembleia dos remidos, chamados do mundo para seguir ao Senhor Jesus Cristo. De acordo com Mateus 16.18; 18.15-20 e a carta de Paulo aos Efésios 3.21, o Senhor Jesus Cristo tem uma igreja aqui no mundo e isto ninguém pode negar. Mas, as qualidades, o caráter, a composição, e a definição dela são temas muito discutidos e às vezes até mal compreendidos. O estudo sobre a igreja de Jesus Cristo, portanto, tem que ocupar um lugar importante em nossa vida cristã, porque por meio da Igreja, através de seu testemunho, é que Cristo deve ser glorificado na terra.

1. O SIGNIFICADO E CONCEITOS DA IGREJA
A palavra “igreja” no Novo Testamento

1.1. A palavra portuguesa ‘igreja’ é tradução do termo grego eclesia, que significa ‘chamados para fora’. O termo eclesia é uma tradução direta do hebraico qahal e era também o vocábulo usado para designar uma assembleia ou congregação que fosse convocada para diversos propósitos. Segundo Bancroft (2001, p. 280):

O significado desse termo, segundo empregado no Novo Testamento, é duplo. Refere-se àqueles que são chamados para fora, dentre as nações ao nome de Cristo, para constituírem a Igreja, o Corpo de Cristo. Nesse sentido, a Igreja é um organismo. Refere-se ainda aos que são chamados dentre uma determinada comunidade a fim de obedecer aos princípios e preceitos de Cristo encontrados no Novo Testamento, na qualidade de grupo de cristãos. Nesse sentido, a igreja é uma organização.

1.2. É necessário enfatizar que a Igreja não é o judaísmo continuado ou ampliado. Embora haja uma continuidade entre os remidos de todas as eras, a Igreja é “um novo homem” em Cristo conforme Ef 2.15. A Igreja também não é o reino. O reino é o domínio de Deus sobre a Terra; a Igreja é uma agência do reino de Deus na terra e é o corpo de Cristo.
1.3. O uso comum da palavra eclesia naqueles dias era ajuntamento, assembleia, reunião, congregação e sessão. Na verdade, o termo já era conhecido desde o século V a.C., nos escritos de Heródoto, Xenofonte, Platão e Eurípedes. Jesus não falaria a palavra igreja com um novo significado sem explicar bem o novo significado. Se Ele falasse esta palavra igreja sem explicar o novo significado, nenhum dos apóstolos entenderia o termo corretamente. Mas, eles entenderam sem explicação nenhuma, provando que a princípio, Jesus não mudou o significado da palavra igreja como eles a entendiam.
1.4. A palavra “igreja” comporta vários significados, como o prédio onde os crentes se reúnem, pode indicar a nossa comunhão local ou denominação, ou um grupo religioso local ou nacional. Porém, na maioria das vezes, em que o termo eclesia aparece no Novo Testamento, tem uma aplicação mais sagrada e refere-se primeiramente, não à instituições, mas às pessoas reconciliadas com Deus, àquelas que Ele tem chamado para fora do pecado e para dentro da comunhão do seu filho, Jesus Cristo.

Em Atos, como em Paulo, eclesia indica em primeiro lugar, a totalidade dos cristãos que vivem e se encontram em um lugar específico: At 5.11; At 13.1; 14.23; 15.41; Paulo, em Atos 20.28 caracteriza a eclesia como a ‘igreja de Deus’, uma ideia que pode ser subentendida no livro inteiro. Ela vem a ser isto através do Espírito Santo, que incorpora na igreja os membros individuais.” (Lothar Coenen & Colin Brown, DITNT).

1.5. Há uma distinção que deve ser estabelecida quanto à compreensão que devemos ter da igreja. É a distinção entre a ‘igreja invisível’ e a ‘igreja visível’. Quando considerada invisível não quer dizer que não possamos ver o sinal de sua presença, mas porque não podemos ver a condição espiritual do coração de ninguém. Podemos ver os que frequentam a igreja e até perceber alguns sinais externos de alguma mudança interior, mas não podemos de fato ver o coração das pessoas nem enxergar o verdadeiro estado espiritual em que se encontram. Isto é condição exclusiva de Deus, 2 Tm 2.19. A igreja é, portanto, invisível ainda que visível. Conforme Grudem (2006): “Invisível é a igreja como Deus a vê. A igreja visível é a igreja como os cristãos a veem na terra.”

2. A IGREJA NA QUALIDADE DE ORGANISMO
A Igreja é o corpo místico de Cristo, do qual Ele é a Cabeça viva e do qual os crentes regenerados são membros (Ef 1.22,23; Ef 3.4-6). “Porque, assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, constituem um só corpo, assim também com respeito a Cristo. Pois, em um só Espírito, todos nós somos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado de beber de um só Espírito.” (1Co 12.12,13). A Igreja, assim considerada na qualidade de organismo é, segundo Atos 15.14, “um povo para o seu nome”, o qual Deus está atualmente tirando dentre os gentios. Esta é a dispensação da eleição e seleção divinas, cujo objetivo é a formação do Corpo de Cristo, destinado a ser Sua esposa. Cristo é o seu Fundador no sentido de ter sido seu Mestre, Construtor e Enviador do Espírito, que deu forma real ao corpo de Cristo. Grande número de estudiosos concorda que o Pentecostes foi o começo histórico da igreja já que o Corpo de Cristo é formado através da atividade do Espírito (1 Co 12.13), e esta começou suas atividades públicas no dia de Pentecostes (At 1.5; cap. 2)

3. A IGREJA NA QUALIDADE DE ORGANIZAÇÃO
Uma igreja local é um grupo de crentes batizados, reunidos pelo Espírito Santo com o propósito de obedecer aos princípios e preceitos da palavra de Deus. At 2.41,42; At 16.5: “Assim as igrejas eram fortalecidas na fé e aumentavam em número dia a dia.”

No Novo Testamento, a Igreja é uma organização extremamente simples. Todos quantos sejam capazes de se render a Jesus Cristo e que realmente o fazem, aceitando-o como o Salvador e obedecendo-lhe como Senhor, têm o direito de ser membros. E todos os membros estão no mesmo nível. Não há obstáculos para admissão por diferenças de raça, sexo, idade, posição econômica ou cultural. Em Jesus Cristo não há nem judeu nem gentio, nem grego nem bárbaro, nem homem nem mulher, nem escravo nem livre. A Igreja administra seus próprios negócios. Não se inclina a qualquer autoridade terrena superior a si mesma. Jesus Cristo é Seu exclusivo legislador. O Novo Testamento é seu código, porém a igreja administra as leis que lhe foram divinamente transmitidas. Exerce disciplina sobre seus membros que de algum modo estejam andando desordenadamente.” (Goodchild, citado por Bancroft em Teologia Elementar, 2001, p. 281).

A Igreja, na qualidade de organismo, inclui todos os crentes regenerados, tirados de todo o mundo entre o primeiro e o segundo advento de Cristo; ao passo que, como organização, abrange os crentes locais, unidos para o serviço de Cristo, em qualquer assembleia Cristã. Na realidade espiritual, tudo da igreja está centrado em Cristo: sua morte sacrificial, sua ressurreição, seu perdão, nosso arrependimento, nossa confissão, a reconciliação, o reaprendizado para a nova vida, a transformação, a constatação externa da mudança interior, o testemunho diário, a divulgação dessa graça, a permanente renúncia exigida no discipulado cristão, o crescimento espiritual, o relacionamento renovado com Deus e com o próximo. Porém, em sua realidade organizacional, tudo da igreja está centrado nas pessoas: a regularidade dos encontros, seu conteúdo, o atendimento das necessidades, a formação educacional, o local, o horário, o programa, o som, as cadeiras, a decoração, os compromissos financeiros consequentes, os desafios para alcançar outros, a mobilização para fora, o senso do ir, do fazer acontecer, do se importar.

4. METÁFORAS DA IGREJA
As Escrituras usam uma ampla variedade de metáforas e imagens para nos ajudar a compreender a natureza, as qualificações e os propósitos da igreja. Vejamos algumas dessas metáforas:

a) Uma família, 1 Tm 5.1,2; Ef 3.14; 2 Co 6.18; Mt 12. 49,50; 1 Jo 3.14-18.
b) A noiva de Cristo, Ef 5.32; 2 Co 11.2;
c) Ramos de uma videira, Jo 15.5
d) Uma oliveira, Rm 11.17-24
e) Uma lavoura, 1 Co 3.6-9
f) Um edifício, 1 Co 3.9
g) Uma colheita, Mt 13.1-30; Jo 4.35
h) Um novo templo, 1 Co 3.16; 1 Pe 2.5; 1 Pe 2.4-8
i) Um Reino de Sacerdotes, 1 Pe 2.5; Hb 13.15,16
j) Casa de Deus, Hb 3.3
k) Coluna e baluarte da verdade, 1Tm 3.15
l) O Corpo de Cristo, 1 Co 12. 12-27
m) O Rebanho de Cristo, 1 Pe 5.2-4; At 20.28

4.1. As figuras da igreja diretamente relacionadas a Cristo
1. O pastor e as ovelhas (Jo 10).
2. A videira e os ramos (Jo 15).
3. A Pedra Angular e as pedras do edifício (Ef 2.19-21;1 Pe 2.4-8).
4. O Sumo Sacerdote e um reino de sacerdotes (1 Pe 2.9; Ap 1.5,6).
5. A Cabeça e o corpo (1 Co 12).
6. O Último Adão e a nova criação (Rm 5).
7. O Noivo e a Noiva, (Ef 5).
8. O marido e a esposa (2 Co 11.2; Ap 19).

5. A MISSÃO DA IGREJA
“Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Paz seja convosco! Assim como o pai me enviou, eu também vos envio.” João 20.21 Missão vem do latim missio que significa ‘enviar’. A igreja de Cristo tem uma nobre missão a cumprir no mundo, pois, as palavras que Jesus falou aos seus primeiros discípulos como seus representantes, ainda se aplicam à igreja em seu sentido universal e à cada congregação local e, por conseguinte, cada cristão dessa congregação é enviado ao mundo para cumprir uma tarefa definida. A missão ou os propósitos da igreja podem ser descritos em termos de ministérios com relação à Deus, aos cristãos e ao mundo.

5.1. A missão da igreja com relação à Deus
Adorar, Cl 3.16; Ef 1.12; 5.16,17 Ef 3.20,21: “Ora, àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos, ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós, a Ele seja a glória, na igreja e em Cristo Jesus.”
5.2. A missão da igreja com relação aos cristãos (a si mesma)
Edificar seus membros, com o objetivo de torná-los maduros e santos, Ef 4.11-13: “E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo.”
Cuidar das necessidades de seus membros (1 Tm 5)
Disciplinar seus membros (Mt 18.15-17)

5.3. A missão da igreja com relação ao mundo
Evangelização: a igreja tem o papel de evangelizar o mundo, tarefa ordenada por Jesus (Mt 28.19,20; Mc 16.15-20; Lc 24.44-49; Jo 20.21; At 1.8). Quando a igreja obedece a ordem de Jesus, ela experimenta um avivamento real e constante (At 2.37-47).
Mt 28.18-20: “Jesus, aproximando-se, falou-lhes dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as cousas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século.”

O propósito para o qual existe uma igreja é o trabalho missionário. Tire-se de uma igreja a ideia missionária, uma árvore estéril, uma casa vazia sobre cuja porta está escrito “icabode”. Limite-se o Evangelho em seu escopo ou poder, e arrancar-se-á o próprio coração. Cristo viveu e morreu a favor de todos os homens. A incumbência da Igreja é torná-lo conhecido de todos. Nossa religião cristã gira em torno de dois eixos: ‘vem’ e ‘vai’. Todos que aceitam o convite que diz “vem” devem ouvir, imediatamente, o imperativo que diz “vai”. Essa é a roda motriz da maquinaria de uma igreja ou denominação. Pare-se essa roda e a maquinaria ficará imóvel e inútil. Essa é a autoridade da educação cristã. Colégios e seminários foram fundados para preparar os homens para o ‘vai.’ Quando deixam de funcionar assim, devem ser ou revitalizados ou enterrados” (MacDaniel, citado por Bancroft, Teologia Elementar, 2001, p. 288)

Dar testemunho da verdade, 1 Tm 3.15: “Para que se eu tardar, fiques ciente de como se deve proceder na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, coluna e baluarte da verdade.”

Tornar conhecida a multiforme sabedoria de Deus, Ef 3.10: “Para que, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus se torne conhecida agora dos principados e potestades nos lugares celestiais.”

Praticar o bem no mundo, Gl 6.10, através da ação social e a consequente demonstração da misericórdia.

Henry C. Thiessen elaborou a missão da igreja em sete itens. Ele diz que o propósito da igreja é “glorificar a Deus, edificar-se, purificar-se, educar seu círculo, evangelizar o mundo, agir como uma força que impõe limites e ilumina o mundo, promover tudo o que é bom”.

6. SINAIS DE UMA IGREJA MAIS PURA

a) Doutrina bíblica (ou pregação correta da palavra)
b) Uso adequado das ordenanças bíblicas (batismo e ceia)
c) Aplicação correta da disciplina eclesiástica
d) Adoração genuína, Ef 5.18-20; Cl 3.15,17
e) Oração eficaz, At 4.31-35; At 12.5
f) Testemunho eficaz, Mt 28.19,20; Jo 13.34,35;
g) Comunhão eficaz, At 2.44-47;
h) Governo eclesiástico bíblico, 1 Tm 3.1-3
i) Poder espiritual no ministério, At 1.8; Rm 1.16; 1 Co 4.20; 2 Co 10.3,4
j) Santidade de vida entre os membros, 1 Ts 4.3; Hb 12.14
k) Cuidado pelos pobres, At 4.32-35; Rm 15.26; Gl 2.20
l) Amor por Cristo, 1 Pe 1.8; Ap 2.4

Naturalmente, as igrejas, no sentido local ou denominacional, podem ser mais puras em algumas áreas e menos puras em outras. E, haverá ainda algumas que poderão pensar que as áreas nas quais são fortes são mais importantes e que as áreas nas quais são fracas são menos importantes. Todavia, a mensagem do Novo Testamento, nos encoraja a trabalhar pela pureza da igreja em todas essas áreas acima citadas. O apóstolo Paulo nos expressa o alvo de Cristo para a sua igreja em sua carta aos Efésios 5.26,27: “…Para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito.”

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Enquanto muitos estão tratando a igreja meramente como um instrumento de ascensão social, política, econômica ou mesmo status eclesiástico, ela deve ser encarada como o corpo de Cristo e o rebanho precioso do grande pastor Jesus Cristo, que a amou e por ela deu a própria vida. Não podemos perder o foco da igreja como organismo assim como não devemos negligenciá-la como organização.

NOTA: o conteúdo desta disciplina foi extraído do livro Nosso Cremos, da autoria do pastor Rayfran Batista da Silva. Editora Reflexões, São Paulo. Ano 2018, 160 páginas.