Substituir um colega é mais que ocupar o seu lugar. É executar as funções e o serviço que ele exercia, observado nosso próprio estilo de liderança, é claro. Todos nós temos nossa maneira de trabalhar, não precisa você trabalhar exatamente como seu colega trabalha ou trabalhou, precisa sim você desempenhar bem o seu papel e ocupar o seu espaço.

Para mim, substituir um colega é um favor divino, mais uma oportunidade que temos de aprendermos com os erros e acertos do outro. Considero uma bênção de Deus tanto substituir um colega quanto ser substituído.
Lembro quando visitávamos o campo de Dom Pedro, eu e o irmão Josafá, de bicicleta, à noite. Não tínhamos faróis nem lanternas. Ele sempre ia à frente. Brincando eu dizia: – Josafá, quando você cair me avise. Não precisava; quando o Josafá caía, eu ouvia o barulho e já pegava nos freios para não cair também.

Ouvi dizer que o senhor João Claudino afirmou que o segredo do sucesso é observar os outros. O que deu certo e errado com os outros, tem tudo para dar certo e errado com você. É claro que cada caso é um caso diferente. Entretanto, se a maneira de trabalhar, de agir e se relacionar do colega não deu certo, ao substituí-lo você não pode pisar no mesmo rastro.
É nestes termos que acho ser uma bênção substituir, observar os erros do colega para não cometer os mesmos erros e observar os acertos para repeti-los, se necessários.

Porém, infelizmente alguns obreiros só são “amigos” até o dia em que permutam, depois daí a máscara da “amizade” cai e os que eram “amigos” ficam indiferentes.
Não quero aqui referir-me aos jacós desta vida que trapaceiam seus irmãos, aos mestres na arte de pintar, que pintam um quadro tão bonito do seu campo de trabalho que dá para encantar qualquer Ló, que só anda por vista. Pois, nem um obreiro do Senhor está livre para trapacear seu colega e ninguém que ande por vista tem o direito de se zangar quando é trapaceado.

Quero referir-me às permutas e transferências feitas com sinceridade e espiritualidade, que a gente não tem dúvida nenhuma que Deus as dirigiu. Mesmo assim, o que era para ser uma bênção passa a ser uma dor de cabeça para a Convenção e tribulação para a igreja. Isto acontece quando o obreiro não sabe substituir nem ser substituído.

Paulo diz em 2Tm 3.1: “Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos; porque haverá homens amantes de si mesmos, […] sem afeto natural, […] sem amor para com os bons, […].”
Infelizmente, os obreiros amantes de si mesmos tem um conceito tão elevado de si próprio que chegam a ser soberbos. São tão orgulhosos e egoístas a ponto de não amarem o próximo como a si mesmos, por isso não conseguem ver sequer uma virtude no colega substituído. Tudo que o colega fez está errado ou está muito feio. E começam as críticas ao obreiro que saiu o qual, ao saber disto, vai ficar desapontado, triste e, se não for humilde também, vai contra-atacar. E, a igreja é quem fica no meio do fogo cruzado dos dois obreiros a se digladiar. Tal obreiro Parece nunca ter lido Filipenses 2:3: “Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo.”
O outro lado da questão é o complexo de inferioridade. Aurélio diz que este complexo está vinculado a sentimentos de deficiências reais ou imaginárias. O obreiro que sofre de complexo de inferioridade se sente diminuído diante do colega substituído. Mesmo sendo um homem preparado se sente incapaz, em seguida enterra o seu talento, e, ao invés de se reanimar no SENHOR, apela para o ciúme passando a denegrir a imagem do seu irmão. Adoece todas às vezes que ouve alguém da igreja local elogiar o trabalhador que foi embora.
Nos dois casos encontramos o que Paulo chama “sem afeto natural” que significa sem afeição à família, no nosso caso, a família de Deus – nós somos irmãos. Em certas situações nem parece que somos.

Sobre a expressão sem afeto natural, encontramos no rodapé da BEP:
[…] e refere-se ao desaparecimento dos sentimentos de ternura e amor naturais; falta esta demonstrada por uma mãe que rejeita os filhos, ou mata seu bebê; por um pai que abandona a família, ou os filhos que negligenciam os devidos cuidados para com seus pais idosos. (Nota da BEP)
Sem afeto natural ou desafeiçoado, também pode significar o desafeto entre os reis e seus súditos, entre lideres e liderados. Entre nós, obreiros do Senhor. Sendo amante de si, o obreiro não tem afeto para com seu irmão em Cristo, no caso o colega, nem tem amor nem mesmo pelas coisas boas que ele realizou.

Lembro quando comecei o primeiro culto em Brejinho do Ismael, 25 anos atrás, ali encontrei irmãos, literalmente, com os olhos inchados de chorar pelo Pr. José Fernandes Amorim; quando comecei a falar eles dispararam num choro sem igual, então falei: – irmãos, vocês podem chorar, eu sei o que vocês estão sentindo; também já chorei por meus pastores. Esperei uns vinte minutos até que eles se controlassem, depois, meio sem jeito, continuei o culto. E, ao invés de ficar enciumado, fiquei muito feliz. Entendi que eles choravam porque amavam o pastor, portanto, eu tinha grandes possibilidades de ser amado também naquela igreja. E fui, graças a Deus!
Não posso encerrar este artigo sem tratar de outro aspecto.

É comum ouvirmos queixas da falta de afeto natural tanto de um lado como do outro: obreiros substituídos e substituintes.
Principalmente se o obreiro substituído é jubilado e mora no mesmo local. Ele começa a criar motim, a formar grupinhos para desestabilizar o que está chegando, que fica numa situação tão difícil que somente a misericórdia de Deus o pode salvar. Queixa-se de tudo e pra todos; quer ter oportunidade em todos os cultos e quer ser ouvido antes de qualquer decisão; procura engessar o ministério do novo obreiro. Esquece-se que já não é mais pastor da igreja. E, pior, sempre têm aqueles que concordam com ele. Existem também aqueles que não se congregam reclamando de falta de espaço, de atenção.

Mas, às vezes é o obreiro jubilado que se torna saco de pancada do novo obreiro, principalmente se o seu ministério foi profícuo. O novo obreiro não quer nem ouvir falar no colega, não lhe dá atenção, não lhe visita nem reconhece o trabalho prestado ao longo dos anos, não paga seu salário (se é jubilado pela igreja) nem atenta para suas necessidades. É como se ele não existisse. E, se tem filhos com chamada ministerial, são isolados para não se destacarem na igreja.

Depreciar o outro por achar que o outro é inferior ou superior a si é uma atitude carnal, e muito carnal. Enumerando as obras da carne, Paulo cita emulações que é a inveja amarga do sucesso dos outros e pelejas que é a ambição egoísta e a cobiça do poder e, é taxativo: “[…] declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não herdarão o Reino de Deus” (Gl 5.20,21).

Que Deus nos livre da soberba e do amor a si próprio acima da qualquer coisa que leva o homem a invejar amargamente o sucesso dos outros e a brigar pelo poder.

Quero finalizar com as palavras de Abraão a Ló: E disse Abrão a Ló: Ora, não haja contenda entre mim e ti e entre os meus pastores e os teus pastores, porque somos irmãos (Gênesis 13:8).

Ora, o homem a quem é dada a promessa da terra inteira, não pode e nem deve ficar brigando por cacimba d’água.
Que o SENHOR nos abençoe. Amém.

 

pastorRAPOSO

Pr. Francisco Raposo
1º Vice-Presidente da CEADEMA e líder da AD em Bacabal-MA