A primeira demonstração clara, no Novo Testamento, de que Deus ama e valoriza a família, é que o primeiro capítulo do Evangelho de Mateus começa com um relato histórico da família de Jesus. É a genealogia de Jesus.

Deus poderia ter enviado Jesus ao mundo, já na fase adulta. Sem dúvida alguma, isto poderia ter acontecido. Mas não foi assim que aconteceu. Jesus, o Deus encarnado, nasceu como todos os bebês nascem após meses de gestação, embora sua fecundação tenha-se dado pela atuação exclusiva do Espírito Santo. José, esposo de Maria, não teve qualquer participação neste processo biológico.
Ao ler um pouco sobre os antepassados de Jesus, descendente da tribo de Judá, chegamos a uma conclusão muito importante: não há famílias perfeitas. O texto de Mateus 1. 1-17 menciona nomes de homens e mulheres que cometeram os mais sórdidos pecados que um ser humano pode cometer. Só para lembrar alguns deles, podemos verificar na história bíblica que Abraão mentiu, Jacó trapaceou seu irmão, Davi, o personagem que é mais citado nas páginas da Bíblia, conhecido também como sendo “o homem segundo o coração de Deus”, cometeu adultério com Bate-Seba e planejou a morte de seu esposo, Urias. Salomão praticou a idolatria, influenciado pelas inúmeras mulheres que teve em sua vida. Poderíamos também lembrar os pecados de Roboão, Ezequias e tantos outros nomes que aparecem na lista dos antepassados de Jesus. A família de Jesus não era perfeita e nem a nossa também não é. Talvez existam em nossas famílias, ou na história dos nossos antepassados histórico de assassinato, abuso sexual, adultério, estelionato e tantos outros delitos que nos fazem, às vezes, envergonharmo-nos de pertencermos a uma família com tantos problemas. Quando cultivamos este tipo de pensamento, devemos pensar em duas verdades muito importantes. Primeira verdade: Deus está cumprindo um propósito através de nossa história familiar. Apesar de todas as falhas humanas dos antepassados de Jesus, Deus tinha um santo propósito a cumprir naquelas vidas. A segunda verdade que nos devemos lembrar é que não há pecado familiar que Deus não possa perdoar e cobrir o faltoso com sua maravilhosa graça.
Embora, como já afirmamos José não tenha sido o pai biológico, seu papel no crescimento de Jesus é digno de nota. Lucas é o escritor que mais dá informações sobre a vida de Jesus no seio de sua família. Através dessas informações chegamos à conclusão que Maria e José, pai adotivo de Jesus, deixaram para nós lições valiosas acerca do tipo de paternidade ou maternidade que Deus deseja para nós hoje. As lições que aprendemos são as seguintes:

A primeira delas: A vontade de Deus é que os filhos nasçam e sejam criados numa família em que tenha a presença do pai e da mãe. Muitos nascem em lares em que um dos pais está ausente. Por vários motivos, isto pode acontecer, e nem por isto estão marcados para viverem uma vida infeliz, mas o ideal para uma criança é crescer tendo em seus primeiros anos o referencial feminino e masculino.

A segunda lição: Pais e mães, ambos, devem ser responsáveis pela educação dos seus filhos. Temos percebido hoje uma tendência de colocar sobre a mulher a tarefa de educar os filhos, enquanto o homem é tão-somente responsável pelo sustento financeiro. 0 modelo da família de Nazaré não nos indica a seguir este caminho. Várias vezes nos relatos bíblicos vemos Maria e José sendo parceiros na educação religiosa de Jesus e ambos sentiam-se responsáveis por sua integridade. A tarefa de orar pelos filhos e encaminhá-los pelos caminhos retos não é uma tarefa exclusiva da mãe ou do pai, mas de ambos.

A terceira lição: Os filhos não são nossos, mas de Deus. Maria ensina-nos esta verdade no episódio de Cana da Galiléia. Ali ela demonstrou através de sua palavra que Jesus era um homem especial e que só Ele poderia resolver aquele problema. Mais tarde, ao pé da cruz, Maria, através daquela cena, ensina-nos que aquele homem tinha vindo ao mundo para uma missão especial e que ela fora apenas uma serva nas mãos de Deus para cumprir aquele propósito.

O ministério de Jesus começou num ambiente de família. Numa cerimônia de casamento, procurou encaminhar sua mãe, após a sua morte, aos cuidados de João. Várias vezes podemos ler o quanto gostava de viver perto das famílias dos seus seguidores. Foi recebido por Pedro, foi hóspede de Levi, foi numa casa que celebrou a última ceia, atendeu à súplica de Jairo e foi até à sua casa curar sua filha, mas era no lar em Betânia que se sentia mais à vontade.

Cláudio Froz Leite, É pastor auxiliar da Assembléia de Deus em São Luis, e um dos coordenadores do Departamento de família da AD São Luis (DEFADESL). Licenciado em Letras, Bacharel em Teologia. E-mail: [email protected]