A experiência da mudança de ambiente transcorrida do agradável momento da celebração da Última Páscoa e a instituição da Ceia do Senhor para a solitária agonia do Jardim do Getsêmani foi única. Enquanto na celebração da Última Páscoa e na Ceia o clima era de alegria, segurança, esperança e paz, no Getsêmani  foi de desconforto, insegurança e agonia sem igual. Isto é, o que se sente a partir, principalmente, da apurada descrição do doutor Lucas (22.44). O episódio do Getsêmani merece consideração a começar pelo significado do nome deste lugar: “prensa de azeite”, “local de aperto”.

Pouco antes de chegar neste ambiente de agonia Jesus havia celebrado a Última Ceia (Mc 14. 22-25), onde comeu a refeição da Páscoa. Aqui era tudo alegria e descontração principalmente para os discípulos, visto ser um momento especial de se recordar a libertação do povo de Israel da terra do Egito. Contudo, o divino Mestre que vivia ali totalmente sua humanidade, com certeza, já podia distinguir alguma coisa da dor e do sofrimento que se aproximava, ou seja, pesaroso, mas constante. Naquele momento lindo e inesquecível em que Ele realizava a cerimônia sagrada simbolicamente: tomou um pão, e, abençoando-o (22), agradeceu ao Pai que o dera, o partiu e deu aos discípulos.

Durante seu ministério, Jesus havia ensinado que Ele era o Pão do Céu e que se os homens não comessem da sua carne, e não bebessem do seu Sangue, eles não teriam vida em si mesmo (Jo 6.51-53). Com certeza os discípulos lembraram-se disso e começaram a entender o que Jesus queria dizer. E, por semelhante modo tomou um cálice, contendo nele vinho disse-lhes: “Isto é o meu sangue, o sangue do Novo Testamento” (24 cf Êx 24.8). Em um grande sinal de“advertência” diz: “Este é o Sangue da [nova] aliança que será derramado a favor de muitos” (Mc 14.24 cf Is 53.11-12). Não diz o texto que é a favor de todos. Mas, restritamente diz: a favor de “muitos”.O texto de Mateus 26.30, informa que logo depois de terem ceado, cantaram um hino e foram para o Monte das Oliveiras. Presumi-se, que o hino cantado, foi o conjunto dos Salmos 115 a 118. Possivelmente que quando eles voltavam do monte das Oliveiras, acerca de 800 metros, ao oeste de Jerusalém, Jesus tenha feito essa terrível e assustadora, advertência: Todos vós, […] vos escandalizareis (27). E havendo chegado ali naquele Monte (32) um lugar especial chamado deGetsêmani ou Jardim do Getsêmani, localizado no sopé do Monte das Oliveiras. Onde até hoje existem várias Oliveiras milenares, que são testemunhas mudas, as quais já estavam plantadas ali ha muitos anos antes. O mesmo local que por diversas ocasiões Jesus juntamente com seus discípulos estiveram realizando demoradas e freqüentes orações… Tornou-se, então, aquele jardim palco de dor e agonia. Até porque, foi ali que teve início o sofrimento de nosso Senhor Jesus. O Jardim que já era conhecido por parte dos discípulos, inclusive de Judas, o traidor, em outras ocasiões servira para eles orar (Lc 22.39).

Naquela noite, Jesus deixando oito dos seus discípulos na entrada, levou consigo para o interior do Jardim do Getsêmani (exatamente o local conhecido como “prensa de azeite”), apenas o privilegiado círculo mais íntimo de seguidoresque serviriam como uma espécie de guardas, ou seja, aqueles que anteriormente haviam presenciado e testemunhado da sua glória (Mc  9.1) iriam agora testemunhar de sua “agonia”.  Além de se aperceberem da real importância da “cruz” e de que significava para tirar os pecados do mundo.  Instrumento de invenção antiga para castigos, a cruz fora criada pelos persas, e adotada pelos os romanos  para tortura de cidadãos não- romanos.

A morte de cruz começou a ser um pensamento cada vez mais forte para Jesus. Marcos descreve esse momento com uma linguagem extremamente forte: “Começou a ter pavor e a angustiar-se” (33). É como se Ele estivesse doente à beira da morte: “A minha alma está profundamente triste até a morte; ficai aqui e vigiai” (34). A sombra da cruz, que há muito havia se estendido em seu caminho, começou agora a se levantar diante d’Ele, para se erguer em poucas horas em sua frente. Forte pavor: Ele dizia se possível passa de mim este cálice (36).

Tendo tido todo seu começo em simples, mas pavoroso lugar chamado: Getsêmane.